Daniela Ventura
Tea Time with the Liver
Hoje foi dia de visitar antigos conhecidos… não, não estava na agenda nem planeado. Não marcámos, fomos convidados, nem levámos um presente para o nosso anfitrião. Apenas aparecemos e, acreditem, ficámos tão surpreendidos como quem nos recebeu! Hoje foi dia de ir beber chá com o fígado (e outros amigos, mas vamos ficar pelo fígado mesmo).
Num trabalho de introspecção – e do chamado desenvolvimento pessoal -, trilhando aquele caminho que não podemos deixar de desbravar, hoje tivemos um encontro com alguns dos nossos órgãos.
Encontrei o meu fígado no seu canto, grande e pachorrento como um senhor na casa dos 60 cuja paciência já se encontrava um pouco esgotada. Afinal, para um senhor cuja idade já pesa, que vive rodeado de outros órgãos vivaços (alguns quase psicóticos até), nem sempre é fácil. No seu refúgio lateral, como que conformado com a vida e já sem a sua companheira (a vesícula biliar há já alguns anos que se foi), que mais pode um velho sedentário fazer senão suspirar e aguardar? Foi assim que o encontrei. Não se podia dizer que estava de mau humor, mas a sua sapiência permitia-lhe não ter de simular qualquer empatia ou simpatia por ali me ver. Quase que com receio de o incomodar, fui tentando perceber porquê daquele meu velho “dinossauro” se encontrar com tal astral. Não foi preciso palavras para perceber que, quando somos pesados – cada vez mais pesados – a mobilidade é algo que não queremos desbravar. E assim ali se ficou, num local onde – segundo ele – a sua única amiga (ou inimiga) é a boca. Lá me confessou que era dela que gostava e que só ela poderia cuidar dele. Findei a minha visita despedindo-me e fiquei a pensar em tão encorpada personagem. A boca – o seu único e grande amor – amá-lo-ia tanto como ele a ela? Creio que não. Sendo assim, entrei numa missão de amor ao próximo, neste caso, ao meu fígado. Que precisa, na certa, de emagrecer e ganhar alegria de viver!