Daniela Ventura
Crónicas da Gravidez: A decisão
Há muito tempo que quero escrever este texto… na verdade, há mais de 2 anos. Só agora senti ser o momento certo… ou, talvez, só agora tenha tido coragem. É preciso alguma dose de energia para nos darmos – mesmo que através da escrita -, para nos entregarmos.
Não que isto seja importante, mas posso dizer que tenho uma “história” associada à minha gravidez. Não considero que, o facto de se “ter uma história” traga mais a esta vivência: contudo, todos gostamos de boas histórias…
Engravidei, pela 3ª vez, em Janeiro de 2017 – depois de 3 anos de tentativas e vivências que me ensinaram e moldaram – exactamente no momento em que “não deveria” engravidar. Lá no fundo, acho que sempre soube que seria assim: mas não queria era acreditar.
Como acontece com várias mulheres, sempre sonhei ser mãe. Já me perguntei, várias vezes, porquê. O que faz uma criança de 8 anos, adolescente de 16 ou uma pessoa no início da sua idade adulta querer “ser mãe”? O querer cuidar? Curiosidade? Instintos? Ou estigmas sociais?…
Em 2012, fui à minha consulta de ginecologia anual e disse à médica, a Dra. Margarida França Martins (também conhecida como Margarida Miguéis), que queria começar a tentar engravidar. Depois de uma conversa sobre ter ovários poliquísticos – onde fiquei a saber que poderia ter dificuldades a engravidar – sai do consultório e já não era a mesma. Comecei a ter um medo irracional de ser mãe. Lembro-me de pensar: “Como vou alimentar a criança? Como é que crianças tomarão conta de outra criança?… … …”. Atenção, eu sei bem como se alimenta um bebé. Mas, na altura, o meu mindset mudou. E veio o nevoeiro… por muito tempo. Entrei num remoinho de medos e dúvidas, no qual me perguntava se – de facto – quereria mesmo este papel. No meio deste novo estado mental, comecei a tentar engravidar. Sabia que o medo me estava a toldar a razão, mas iria tentar. Lembro-me de desejar ficar grávida “sem querer” (upsss… escorreguei e estou grávida). Obviamente, não estava preparada para ser mãe. E, assim, se passou o primeiro ano: entre tentativas e confusão.
(continua…)