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  • Foto do escritorDaniela Ventura

Crónicas da Gravidez: Útero septado

(continuação)

Foi em Janeiro de 2015 que engravidei pela primeira vez. Como estava a tentar ser mãe, lembro-me que registava sempre as datas das minhas menstruações – assim como dos meus períodos férteis. Nessa altura, porém, esqueci-me de anotar. Numa manhã de Fevereiro, acordei indisposta. Bebi um sumo de laranja que me virou ao contrário – fui à Farmácia e comprei medicamentos para a gastrite. Fiquei de cama a beber muito chá preto (sem açúcar): dizem que acalma os espasmos do estômago. No dia seguinte estava fresca e fofa (estranhooo….. passou tão rápido?).

Não me recordo do dia da semana, mas sei que tinha ganho um grande projecto/cliente nessa tarde: desci pelo Chiado eufórica, parei para ouvir uns músicos – que tocavam e animavam quem passava com o seu carisma – enquanto sentia o frio na pele da cara. Fui para casa e fomos comer ovos rotos para comemorar a conquista profissional. De repente, pensei: o meu período está atrasado… mas não sei se 3 ou 15 dias. Como tinha sempre um teste de gravidez em casa, quando cheguei – agarrei na última urina do dia (em vez de ser a primeira) e fiz o teste. Já era um acto rotineiro para mim: pegava no “copo do xixi”, ia para o WC, embebia o teste no dito cujo, fechava-o, esperava uns minutos e espreitava. Como costumava dar negativo, estava bastante descontraída. Enquanto aguardava, comecei a falar com a minha prima no chat… passaram-se alguns minutos, dei uma olhadela para as barrinhas e, pela primeira vez, vi 2 barrinhas em vez de 1. Devo confessar-vos que a minha reacção não foi a que esperava: o meu coração batia depressa, comecei a chorar como uma Madalena arrependida e pensei “afinal, já não quero”. Vim contar ao meu companheiro. Depois do susto, veio o riso. Adormecemos cansados com as emoções do dia. A partir do dia seguinte, veio a euforia! Contámos a toda a gente (esperar?! Mas quem é que aguenta esperar para dar uma notícia destas pela primeira vez?!).

Passaram-se 8 semanas e, no dia 2 de Abril, fomos à nossa primeira consulta: uns dias antes da Páscoa.

O coração do bebé não batia: a gravidez era não evolutiva. Agora, era aguardar para que a o corpo tratasse do resto. Caso assim não fosse, tería de passar por uma intervenção para ajudar. Aguardámos, a Natureza fez o seu trabalho poupando-me a mais alguma dor. Senti-me aliviada por voltar ao meu Eu antigo – aquele que conhecia… e triste… não sabia explicar a dor, ou a tristeza. Apenas me sentia cansada como um trapo velho. Ouvimos coisas como: “É normal, mas primeiras gravidezes acontece muito.”. Acreditámos e continuámos com a nossa vida. Veio novembro – lembrei-me que era o mês em que iria parir. O pensamento veio e foi, e continuei a minha vida.

Em outubro do mesmo ano, engravidei novamente. Íamos para o second round e quase que conseguia ver uma jeitosa desnuda, a passar dentro de uma arena de combate, exibindo um cartaz com o nº 2. Lá fomos nós: marcámos consulta, dissemos apenas “às mães” e tentámos ir com calma. Mais uma vez, às 7 semanas descobrimos que, afinal, não íamos ser pais. Desta vez, tinha meditado muito e pensei que os médicos estavam enganados: que ele era só mais pequeno do que eles acreditavam ser. Contudo o resultado confirmou-se: gravidez não evolutiva, descoberta de um útero septado, valores da tiróide altos e… tentem mais uma vez, que só a partir do 3º aborto é que fazemos um estudo para perceber o que pode ter corrido mal. O quê??? Está tudo louco?

Os meses seguintes foram passados a não pensar muito nisto. Afinal, porque queria ser mãe? Será que queria mesmo?

Em Dezembro de 2016, depois de consultar vários médicos e de perceber ao certo o que tinha o meu útero (um septo um tanto largo, que o atravessava e o dividia em dois), decidi avançar com a operação. Seria operada em Fevereiro de 2017, por um médico que tinha o mesmo primeiro e último nome que o meu companheiro. Só podia ser um bom presságio, não?

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